quinta-feira, junho 06, 2013

O abismo prateado, de Karim Aïnouz ***


Em seus dois terços iniciais, pode-se dizer que “Abismo prateado” (2011) apresenta uma concepção formal em sintonias com outras obras anteriores do diretor Karim Aïnouz. Privilegia-se uma narrativa de tons sensoriais – o foco está concentrado muito mais nas reações e expressões da personagem Violeta (Alessandra Negrini, em atuação visceral) do que na explicação dos motivos de suas angústias. Essa opção faz com que haja uma atmosfera tensa e perturbadora para o filme. Aos poucos, as explicações vão surgindo, em pequenos e sutis detalhes do roteiro. Aïnouz revela uma expressiva engenhosidade temática: ao expor as entranhas do intimismo de uma relação amorosa, também evidenciando uma série de questionamentos a valores pequeno-burgueses de suas criaturas. No terço final, a produção toma um direcionamento diverso, quando Violeta conhece uma menina e seu pai, família de origem humilde, o que faz com que ela questione as suas motivações. Tal recurso da trama parece sugerir um desejo de Aïnouz em se aproximar daquele cinema mais sentimental e de valorização do “Brasil profundo” típico das produções de Walter Salles e afilhados. Faz pensar ainda na busca de uma maior acessibilidade em busca da ampliação de seu público. Esse direcionamento acaba tirando muito do impacto de “Abismo prateado”, fazendo temer uma possível diluição do traço autoral de Aïnouz.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Filme curto, mas certeiro