quarta-feira, abril 02, 2014

Entre nós, de Paulo Morelli **1/2


O diretor Paulo Morelli envereda por um gênero bem definido em “Entre nós” (2013), o do melodrama geracional, para fazer um retrato das aspirações e desilusões de um grupo de “jovens adultos” aspirantes a escritores no período de 1992 e 2002, em que esse recorte intimista também serviria para focalizar o próprio imaginário dos dilemas e contradições do Brasil (ou pelo menos de sua classe média) naquele período. Morelli mostra considerável competência na fluência da narrativa e oferece uma bonita concepção visual para o filme ao focalizar a trama numa casa de campo no meio de montanhas. O que incomoda na produção é um certo grau de esquematismo formal e temático que tira a naturalidade da encenação bem como revela uma certa superficialidade incômoda. As caracterizações de situações e personagens tendem para estereótipos previsíveis, o que acaba atenuando o impacto que o filme poderia ter sobre o espectador. O próprio mote principal do roteiro (a do escritor que assumiu a autoria do livro do amigo que morreu e acabou recebendo indevidamente os louros) acaba se revelando um recurso cansativo que não explora de forma devida as possibilidades criativas da premissa, jogando o filme, em alguns momentos, para a vala do suspense capenga. E mesmo como visão pessoal da condição política e social nacional da época “Entre nós” fica a dever pelos diálogos discursivos e poucos sutis – o subtexto chega ao espectador de forma atabalhoada e um tanto ingênua. E no próprio elenco há descompasso nas composições dramáticas, em que os registros histriônicos de Caio Blat e Marta Nowill destoam das interpretações mais sutis de Paulo Vilhena, Maria Ribeiro e Carolina Dieckmann.

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