quarta-feira, abril 30, 2014

Hoje eu quero voltar sozinho, de Daniel Ribeiro ***

A formatação de “Hoje eu quero voltar sozinho” (2013) é tradicional, vinculada ao gênero drama romântico no estilo “boy meets girl”, com leves toques cômicos. Mas talvez a força motriz do filme esteja fincada justamente nesse aparente convencionalismo narrativo, que apresenta uma única (e fundamental) variação: na verdade, o estilo é “boy meets boy”. De certa forma, é como se aquelas clássicas produções oitentistas de John Hughes fossem recriadas sob um prisma mais agridoce e menos irônico e em sintonia com os dilemas existenciais da juventude desse século. A questão da homossexualidade é focada de forma tão leve que beira a ousadia – elementos geralmente associados a essa temática como preconceito e culpa são somente tangenciados como se fossem apenas meros detalhes. O aspecto gay do relacionamento entre os garotos é uma nuance de um espectro maior que envolve o universo adolescente contemporâneo: o valor das amizades, a perda da inocência, os conflitos geracionais com os adultos, a descoberta das primeiras paixões. O estilo de filmar do diretor Daniel Ribeiro é fluido, com uma concepção visual luminosa e sem maiores afetações, mas que se permite a alguns truques estéticos e sensoriais interessantes, como nas belas e sensuais sequências oníricas do protagonista Leonardo (Guilherme Lobo). Esse tom geral em que tudo em “Hoje eu quero voltar sozinho” parece tão casual e natural, no final das contas, acaba revelando uma contundência inesperada em meio a um cenário cultural e comportamental ainda permeado por conotações obtusas e obscurantistas vindas de setores da mídia e da sociedade.

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