quarta-feira, novembro 19, 2014

Avós, de Carla Valencia D'Ávila **1/2


A objetividade e o distanciamento emocional cada vez mais de forma deliberada se distanciam da formatação dos documentários contemporâneos. Estão se tornado bastante recorrentes obras dentro de tal gênero que se deixam permear por um caráter intimista de seus realizadores, em que suas impressões e dilemas pessoais se impõem como matéria prima na exposição de suas temáticas. “Avós” é um exemplar interessante de tal vertente do “cinema verdade”. Essa produção chilena-equatoriana combina na mesma moeda política e intimismo com razoável fluência orgânica. A diretora Carla Valencia D’Ávila conta duas histórias – a de seu avô paterno chileno, preso e morto no início da ditadura militar orquestrada por Pinochet, e a de seu avô materno, farmacêutico que se curou de um tumor maligno com medicamentos elaborados por ele mesmo e que depois acabou se tornando um misto de curandeiro e médico, tendo sucesso no tratamento de diversos pacientes. A cineasta não apresenta grandes arroubos criativos em termos formais – a narrativa de “Avós” é pausada e clássica, por vezes até árida dentro da contida estética da diretora. De qualquer forma, Ávila, ao expor as vidas singulares de seus biografados, constrói uma obra que no seu subtexto acaba oferecendo um estranho e sedutor panorama da história existencial de um período crítico da América do Sul, em que repressão política, misticismo e idealismo libertário conviviam de maneira não muito harmônica no continente.

Nenhum comentário: