quinta-feira, novembro 13, 2014

O ciúme, de Philippe Garrel ***1/2


O cinema de Philippe Garrel parece obedecer a uma lógica muito pessoal, quase como se desenvolvesse num universo paralelo. Em termos temáticos, as tramas de seus filmes giram em torno de sentimentos e sensações marcados pela crueza e intensidade a flor-da-pele, sem que, entretanto, sucumbam a arroubos emocionais exagerados, sendo que tais obsessões textuais recebem um tratamento formal sóbrio e repleto de delicadas nuances estéticas. “O ciúme” (2013), obra mais recente de Garrel, se enquadra nesses habituais preceitos artísticos do cineasta. As desventuras amorosas do protagonista Louis (Louis Garrel) são narradas num estilo de ritmo fluido e rigor plástico notável (o detalhe da câmera filmando a ação a partir de uma fechadura, por exemplo, é uma sacada visual engenhosa e marcante). Philippe Garrel estrutura o filme como se fosse um conto moral pleno de pungência e ironia, mas sem cair em maniqueísmos ou obviedades. A serena edição de poucos cortes, o roteiro em que os fatos se sucedem como flashes de pensamento, a direção de fotografia em esmaecido preto e branco e de enquadramentos expressivos, os discretos e pontuais temas musicais de tons melancólicos e o elenco de composições dramáticas de sensível naturalismo compõem uma produção de atmosfera rarefeita e atemporal e que se encerra quase como uma lembrança fugidia.

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