terça-feira, novembro 25, 2014

Pietá, de Kim Ki-duk ****


O cinema do diretor coreano Kim Ki-duk sempre procurou um equilíbrio entre o olhar contemplativo tipicamente oriental com uma estrutura tradicional de melodrama sutil. Filmes como “Casa vazia” (2004) e “O arco” (2005) são exemplares fiéis dessa tendência artística do cineasta. Em “Pietá” (2012), Ki-duk ainda envereda pelo seu particular estilo, mas acrescentando uma porção bem maior de violência e melancolia. O resultado final é um desolador conto moral sobre a brutalidade econômica e a falta de compaixão na sociedade sul-coreana contemporânea (e, por tabela, do próprio mundo capitalista pós-moderno). É claro que no mote principal de sua trama o filme tem um viés intimista ao mostrar a conturbada relação entre um truculento e impiedoso cobrador de vítimas de agiotagem e a sua suposta mãe. Mas aos poucos, a narrativa vai ganhando uma conotação simbólica ao retratar um cotidiano de dificuldades financeiras e insuportáveis coações físicas em áreas urbanas degradadas de uma grande metrópole. Por vezes a trama permite algum respiro ao flagrar raros momentos de algum sentimento mais nobre em seus personagens, mas isso apenas aumenta o grau de choque nas explosões de violência e tragédia que irrompem de forma inesperada e impiedosa. Kim Ki-duk tem alguns truques perversos na cartola – em determinados momentos no faz acreditar em alguma possibilidade de redenção para as suas criaturas, mas isso é ilusório, pois, em sua essência, “Pietá” é uma obra que versa sobre a vingança levada às últimas conseqüências, fazendo lembrar a inesquecível trilogia da vingança concebida pelo também sul-coreano Chan-wook Park. A crueldade temática de Ki-duk vem acompanhada de uma concepção formal extraordinária, repleta de planos de expressiva beleza pictórica e uma narrativa exasperante na sua capacidade de criação de tensão dramática.

2 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...

Achei que Kim Ki-duk fosse coreano por fazer filmes na Coreia. iria ter um curso sobre o cinema coreano, o que acabou não acontecendo e esse filme seria bastante analisado.

André Kleinert disse...

Putz, que deslize. O cara é coreano mesmo. Valeu pela correção.