segunda-feira, julho 13, 2015

Happy, happy, de Anne Sewitsky **1/2


Pela perspectiva da temática, a produção norueguesa “Happy, happy” (2010) guarda forte relação com boa parte da cinematografia nórdica, principalmente quando se pensa em Ingmar Bergman. O roteiro disseca as relações intimistas entre duas famílias de origens culturais diversas que acabam tendo uma convivência mais próxima pelo fato de serem vizinhas. A partir dessa premissa de trama, a diretora Anne Sewitsky aborda assuntos complexos como adultério, homossexualidade, insatisfação sexual, conflitos familiares e racismo. Por vezes, o desenrolar da história até evoca um certo caos emocional no momento em que os matrimônios se desestabilizam quando os desejos dos personagens começam a aflorar com mais intensidade. Nesse sentido, o filme até vislumbra um caráter de contestação dos valores morais vigentes da sociedade ocidental. Sewitsky adota uma narrativa formatada dentro do gênero comédia dramática, o que acaba conferindo à obra alguma leveza irônica. O que quebra a possibilidade de um maior impacto sensorial e existencial para “Happy, happy” é que a produção não leva para níveis mais avançados as suas inquietações artísticas. A sensação de desordem sentimental se dissipa com a necessidade da trama se acondicionar a soluções conciliadoras e um tanto conservadoras. É como se o filme ficasse com medo das consequências morais de sua trama e redirecionasse tudo para uma conclusão careta, em que a unidade familiar deve ser preservada a qualquer custo. Nesse sentido, a comparação inicial que fez nesse texto com Bergman acaba soando covarde. O diretor sueco, afinal, nunca foi de se melindrar em diatribes contra a hipocrisia das relações humanas.