quinta-feira, setembro 05, 2019

O homem que matou Don Quixote, de Terry Gillian **


Todas as histórias e mitos que envolveram a conturbada realização da particular visão do diretor Terry Gillian sobre o personagem mais célebre da literatura ocidental estiveram por décadas nos imaginários não só dos admiradores do cineasta em questão como dos cinéfilos em geral – algumas delas, inclusive, acaram rendendo o extraordinário documentário “Lost in La Mancha” (2002). Todos pensavam nas várias possibilidades criativas que a recriação da figura de Don Quixote poderia render nas mãos do artista que concebeu obras delirantes e antológicas como “Brazil – O filme” (1985), “O barão de Munchausen” (1988), “Os doze macacos” (1995) e “Medo e delírio em Las Vegas” (1998). Pois agora que finalmente a produção tão desejada por Gilian e um considerável público se concretizou, a pergunta que fica é: valeu a pena tanta espera e alarde? Diante do resultado final de “O homem que matou Don Quixote” (2018), a resposta é um frustrante não. Não chega a ser exatamente um filme ruim – é até pior que isso, pois a impressão constante durante boa parte da narrativa é de um trabalho anódino, previsível, sem graça. Toda aquela lógica estética-temática marcada por uma ligação insólita entre o real e a fantasia que caracterizou boa parte do melhor da filmografia de Gillian se sujeita e diminui a um barroquismo estéril e a uma atmosfera de excessivo sentimentalismo. A impressão geral é a de releitura equivocada do clássico de Cervantes por um viés desajeitado de realismo fantástico típico de Garcia Marquez pela severa perspectiva anglo-saxã de Gillian (aliás, nem parece que se trata de um ex-Monty Python). Ou seja, Gillian realizou seu sonho, mas para boa parte da plateia é capaz que a lenda de uma possível obra-prima que nunca se concretizou por infortúnios do destino seja bem mais atraente.

Nenhum comentário: