Todas as histórias e mitos que
envolveram a conturbada realização da particular visão do diretor Terry Gillian
sobre o personagem mais célebre da literatura ocidental estiveram por décadas
nos imaginários não só dos admiradores do cineasta em questão como dos
cinéfilos em geral – algumas delas, inclusive, acaram rendendo o extraordinário
documentário “Lost in La Mancha” (2002). Todos pensavam nas várias
possibilidades criativas que a recriação da figura de Don Quixote poderia
render nas mãos do artista que concebeu obras delirantes e antológicas como “Brazil
– O filme” (1985), “O barão de Munchausen” (1988), “Os doze macacos” (1995) e “Medo
e delírio em Las Vegas” (1998). Pois agora que finalmente a produção tão
desejada por Gilian e um considerável público se concretizou, a pergunta que
fica é: valeu a pena tanta espera e alarde? Diante do resultado final de “O
homem que matou Don Quixote” (2018), a resposta é um frustrante não. Não chega
a ser exatamente um filme ruim – é até pior que isso, pois a impressão
constante durante boa parte da narrativa é de um trabalho anódino, previsível,
sem graça. Toda aquela lógica estética-temática marcada por uma ligação
insólita entre o real e a fantasia que caracterizou boa parte do melhor da
filmografia de Gillian se sujeita e diminui a um barroquismo estéril e a uma
atmosfera de excessivo sentimentalismo. A impressão geral é a de releitura
equivocada do clássico de Cervantes por um viés desajeitado de realismo
fantástico típico de Garcia Marquez pela severa perspectiva anglo-saxã de
Gillian (aliás, nem parece que se trata de um ex-Monty Python). Ou seja,
Gillian realizou seu sonho, mas para boa parte da plateia é capaz que a lenda
de uma possível obra-prima que nunca se concretizou por infortúnios do destino seja
bem mais atraente.
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