Talvez em tempos mais tranquilos e
menos brutalizados, um filme como “Abaixo a gravidade” (2019) poderia ser analisado
como uma obra a versar com melancolia e ironia, além de um viés surrealista,
sobre a velhice, em que a conexão com o filme mais celebrado de seu diretor, “Superoutro”
(1989), está justamente no contraponto em que este último representaria uma
explosiva manifestação estética e existencial enquanto que no longa mais
recente esse caráter de intensa anarquia artística foi filtrado por um olhar
mais sereno (ainda que igualmente desconcertante). Mas já que “Abaixo a
gravidade” foi lançado em meados de 2019, com o país dominado pelo designíos de
uma besta-fera e seus fervorosos admiradores/defensores, o trabalho de Navarro
ganho uma conotação ainda mais ampla e desafiadora. A trajetória do idoso Bené
(Everaldo Pontes) em busca de algum sentido em sua vida em meio a um caos
social e à indiferença de boa parte da sociedade se enquadra em uma narrativa
libertária e a um roteiro repleta de bizarras e poéticas simbologias. Bené busca
para sua vida uma síntese de paz interior, justiça social e possibilidade de extravasar
sua sexualidade e acaba esbarrando em mundo cada vez mais neurótico e desigual.
Na condução dessa pequena saga intimista, Navarro insere elementos de ficção
científica e algo de nonsense, sem nunca perder, entretanto, a coesão de
encenação e narrativa. Assim, aquilo que se inicia com uma abordagem realista
ao poucos se manifesta tanto como sombria fábula quanto como onirismo
encantador.
Um comentário:
"Abaixo a Gravidade" é fruto de uma mente extravagante, criativa e que sintetiza um pouco o melhor da nossa cultura brasileira. Saiba mais no meu blog de cinema https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/08/cine-dica-em-cartaz-abaixo-gravidade.html
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