sábado, setembro 07, 2019

Vermelho sol, de Benjamin Naishtat ***1/2


O cineasta argentino vem construindo sua filmografia a partir de um olhar bastante singular dentro do gênero do cinema político. Se em “Bem perto de Buenos Aires” (2014) a narrativa partia de uma abordagem intimista para chegar em uma ácida visão sobre os conflitos de classe e em “O movimento” (2015) a aventura de época se convertia com sutileza demolidora no retrato de um atavismo da opressão social, na obra mais recente do diretor, “Vermelho sol” (2018), a estruturação de suspense traz em seu âmago uma recriação assustadora e impiedosa da Argentina de meados dos anos 70 prestes a ser tomada de vez por uma ditadura militar. A concepção formal/existencial de Naishtat para o seu filme é cirúrgica – a narrativa se constrói aos poucos de maneira sóbria, sem apelações. Nesse sentido, encenação e direção de fotografia compõem uma obra de atmosfera sufocante, em que a impressão perturbadora de uma força repressora a pairar sobre as relações humanas é constante. O roteiro de “Vermelho sol” também se distancia dos meros maniqueísmos fáceis, ao evidenciar que as ações totalitárias não partem simplesmente “de cima para baixo”, mas também são corroboradas por uma classe média hipócrita, obscurantista e arrivista, o que pode ser atestada na sinistra sequência de abertura do filme. Aliás, não muito diferente do que acontece na sociedade brasileira atual governada pela besta fera.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...


"Vermelho Sol" é sobre tempos em que uma parte da população se encontrava em transe enquanto os demais lutavam pela liberdade. Saiba mais no meu blog de cinema. https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/08/cine-dica-em-cartaz-vermelho-sol.html