O cineasta argentino vem construindo sua filmografia a
partir de um olhar bastante singular dentro do gênero do cinema político. Se em
“Bem perto de Buenos Aires” (2014) a narrativa partia de uma abordagem
intimista para chegar em uma ácida visão sobre os conflitos de classe e em “O
movimento” (2015) a aventura de época se convertia com sutileza demolidora no
retrato de um atavismo da opressão social, na obra mais recente do diretor, “Vermelho
sol” (2018), a estruturação de suspense traz em seu âmago uma recriação
assustadora e impiedosa da Argentina de meados dos anos 70 prestes a ser tomada
de vez por uma ditadura militar. A concepção formal/existencial de Naishtat
para o seu filme é cirúrgica – a narrativa se constrói aos poucos de maneira
sóbria, sem apelações. Nesse sentido, encenação e direção de fotografia compõem
uma obra de atmosfera sufocante, em que a impressão perturbadora de uma força
repressora a pairar sobre as relações humanas é constante. O roteiro de “Vermelho
sol” também se distancia dos meros maniqueísmos fáceis, ao evidenciar que as
ações totalitárias não partem simplesmente “de cima para baixo”, mas também são
corroboradas por uma classe média hipócrita, obscurantista e arrivista, o que
pode ser atestada na sinistra sequência de abertura do filme. Aliás, não muito
diferente do que acontece na sociedade brasileira atual governada pela besta
fera.
Um comentário:
"Vermelho Sol" é sobre tempos em que uma parte da população se encontrava em transe enquanto os demais lutavam pela liberdade. Saiba mais no meu blog de cinema. https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/08/cine-dica-em-cartaz-vermelho-sol.html
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