sexta-feira, outubro 08, 2010

Césio 137, de Roberto Pires ***1/2


O gênero cinematográfico de obras que retratam situações históricas, geralmente, gera produções oportunistas que procuram chamar atenção mais pela curiosidade temática do que propriamente pelos seus méritos artísticos. O diretor Roberto Pires consegue transcender essa situação em “Césio 137” (1990) ao buscar uma abordagem insólita para um episódio de envenenamento radioativo ocorrido em Goiânia na década de 1980. A recriação dos fatos por parte de Pires vai muito mais além do burocrático. Há toques cômicos no roteiro, que parecem vir até de alguma daquelas antigas comédias com Mazzaropi, o que dá uma dimensão humana para a trama ainda mais impactante, no sentido de que evidencia que a tragédia se desenrolou também pela ingenuidade das vítimas, todas moradoras de uma região mais empobrecida da cidade. A narrativa expõe passo a passo o processo de contaminação das pessoas, estabelecendo uma inquietante atmosfera de tensão e tragédia anunciada. A impressionante naturalidade de encenação de “Césio 137” também se deve ao trabalho do elenco, em composições dramáticas notáveis de Nelson Xavier, Joana Fomm, Stepan Nercessian e Denise Milfont. Vale ainda mencionar que Pires insere no seu filme até algumas referências visuais de ficção científica que se inserem principalmente quando se foca o olhar atônito dos personagens perante eventos que fogem da sua compreensão.

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