quinta-feira, fevereiro 17, 2011

De Volta à Normandia, de Nicolas Philibert ***1/2


“Eu, Pierre Rivière, Que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão” é uma produção francesa de 1976 dirigida por René Allio que encenava um caso real de homicídio ocorrido em 1835 em um vilarejo do interior da França, e que havia sido base para um célebre livro de Michel Foucalt. Nas filmagens, o cineasta usou moradores dos arredores da região do crime como atores nos papéis principais. Nicolas Philibert, que havia sido assistente de direção de Allio no referido filme, propõe no documentário “De Volta à Normandia” (2007) uma narrativa que se estende por planos diversos: imagens de arquivo das filmagens de “Eu, Pierre Rivière....”, trechos do filme em questão, descrição dos fatos reais relativos ao crime, depoimentos atuais dos moradores que participaram da produção e registros dos cotidianos dos mesmos. Assim, é oferecido um intrigante mosaico, com Philibert estabelecendo relações entre os planos narrativos. Há uma permanente aura de mistério que se origina da confrontação dessas histórias paralelas. O rapaz que viveu Pierre Rivière nas telas, por exemplo, tinha pontos em comum com o “personagem”: taciturno, curioso, de poucos amigos e palavras, parecendo emular uma possessão. Já as dificuldades para suprir as lacunas do caso Pierre Rivière apresentam uma perturbadora sintonia com os percalços de Allio para ele levar a sua obra até o fim que desejava. A rotina quieta e rústica da região focalizada sugere um universo atemporal e também com algo de opressivo, quase funcionando como um agente da tragédia que ali ocorreu. A abordagem de Philibert chega perto do investigativo, mas o resultado é pouco conclusivo. Boa parte do fascínio de “De Volta à Normandia” está justamente nessa ausência de respostas, sugerindo-se que na vida a dúvida é a verdadeira regra.

Nenhum comentário: