quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Histórias Cruzadas, de Tate Taylor **1/2



Não é necessário um grande treino no olhar para sacar alguns dos principais mecanismos formais de “Histórias Cruzadas” (2011). O diretor Tate Taylor abusa de truques emocionais certeiros para comover as platéias, dando ainda ao filme um verniz de seriedade ao abordar a questão do racismo nos Estados Unidos nos emblemáticos anos 60. Está tudo lá: a personagem branca que desafia as convenções, a outra personagem branca que representa o estereótipo racista da época, as personagens negras altivas que dão lições de dignidade, a música sentimental e ostensiva que irrompe nos auges dramáticos, a direção de fotografia límpida e luminosa. Assim, Taylor segue uma cartilha bem comportada de como fazer um drama de consciência social nos moldes adequados para o público norte-americano médio (e – por quê não? – ocidental) – mesmo que critique o racismo, não deixa de lado o tom paternalista (afinal, é uma branca que determina a mudança central da trama), o que faz pensar como seria “Histórias Cruzadas” nas mãos, por exemplo, de Spike Lee. A produção carece de sutileza na sua suposta contestação, principalmente pela atuação caricatural (e que se leva a sério) de Brice Dallas Howard. O que salva “Histórias Cruzadas” de cair na plena assepsia estética e temática são as interpretações vigorosas de Viola Davis e Octavia Spencer, que dão ao filme doses efetivas de raiva, ironia e até de cinismo, dando uma dimensão dramática maior à obra.

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