terça-feira, fevereiro 14, 2012

A Separação, de Asghar Farhadi ***1/2



É provável que essa multiplicidade de prêmios e indicações diversas que “A Separação” (2011) vem colecionando mundialmente possa fazer com que as expectativas em torno de tal filme sejam maiores que o seu real valor artístico. Afinal, mesmo dentro do padrão iraniano, a produção dirigida por Ashar Farhadi não apresenta maiores novidades estéticas e temáticas (as obras de Abbas Kiarostami, por exemplo, são bem mais inquietantes). É inegável, contudo, que “A Separação” apresenta uma contundência narrativa não tão presente no panorama cinematográfico contemporâneo. Farhadi apresenta um estilo muito direto de filmar, quase como se evocasse um registro caseiro de situações quotidianas, mas sem cair nas obviedades de câmera tremendo ou afins. Ele escolhe ângulos e enquadramentos inusitados, com a câmera se comportando como se fosse uma espiã e colocando o espectador diante da crueza do dia-a-dia dos personagens e de suas reações perante determinadas situações. De certa forma, esta estética entre o documental e o intimista lembra algo dos filmes de Eric Rohmer e Woody Allen (deste último, principalmente “Maridos e Esposas”). Já a trama de “A Separação” consegue a proeza de fazer uma síntese admirável dos conflitos e tradições que permeiam a sociedade iraniana, tão marcada por diferenças religiosas, sem recorrer a maniqueísmos e soluções fáceis. Na realidade, tal síntese acaba encontrando uma ressonância universal ao expor as hipocrisias e intolerâncias que rondam as relações humanas no mundo moderno. A seqüência final, em aberto e desconcertante, é coerente na proposta de Farhadi em não facilitar as coisas para o espectador.

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