sexta-feira, abril 26, 2013

Argo, de Ben Affleck ***

Pode-se dizer que a metade inicial de “Argo” (2012) mostra um trabalho formal bem definido e até com um certo traço autoral. O filme evoca bastante a estética típica do cinema de viés político norte americano dos anos 70 na linha de obras como “Três dias de Condor” (1975) e “Todos os homens do presidente” (1976) - até os créditos iniciais com o ícone do estúdio apresenta esse estilo retrô. Nessa formatação, o diretor Ben Affeck abusa da narrativa por vezes quase documental e da fotografia de tons granulados. Também no início do filme, o roteiro sugere uma visão mais crítica sobre a questão dos conflitos políticos dentro do Irã, ressaltando a própria participação dos Estados Unidos para que a situação chegasse a um ponto tão explosivo quanto aquela da época (final da década de 1970). Nessa conjunção estética e temática, “Argo” se mostra uma produção realmente inquietante. Ocorre que em sua metade final, o filme muda seu direcionamento. Affleck adota uma abordagem bem mais convencional, além de mostrar uma visão política claramente maniqueísta, com os iranianos sendo retratados como animais fanatizados. Por mais que a seqüência de fuga no aeroporto possa soar emocionante para parte dos espectadores, também revela uma incômoda falta de coerência que todo aquele estilo mais cerebral e contido do início do filme. Talvez essas diferenças entre as metades inicial e final de “Argo” reflitam uma esquizofrenia criativa por parte de Affleck. No final das contas, entretanto, é provável que se mostre como uma forma de adequação progressiva a um gosto médio das plateias.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Foi uma virada de mesa na carreira de Affleck definitivamente