terça-feira, abril 16, 2013

Sangue do meu sangue, de João Canijo ***


Vendo uma obra como “Sangue do meu sangue” (2011) pode-se perceber que filmes de temática social não se diferem muito de um país para outro (a não ser que quem esteja por trás das câmeras seja um Ken Loach). De certa forma, chega a ser uma receita bastante simples: olhar mais árido sobre o cotidiano, atores de interpretações naturalistas, registro formal objetivo, beirando o documental. A produção portuguesa dirigida por João Canijo utiliza todos esses elementos de forma rígida, e por vezes até lembra alguns filmes de Walter Salles (com essa crise econômica mundial, parece que os problemas dos nossos irmãos lusos não são muito diferentes dos nossos...). Mesmo assim, “Sangue do meu sangue” consegue encontrar espaço para surpreender. Por vezes, o roteiro traz uma variação até incômoda: se algumas situações batem em clichês melodramáticos (homem descobre que sua jovem amante na verdade é sua filha, fruto de uma transa eventual de décadas atrás), outras trazem uma visão contundente e complexa dos relacionamentos humanos. Nesse último campo, destaque absoluto para uma perturbadora seqüência de sexo forçado entre um chefe do tráfico e a tia de um de seus empregados, num momento de ambiguidade notável entre o grotesco e a amargura. Dá para imaginar se Canijo não andou lendo alguma peça de Nelson Rodrigues...

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