segunda-feira, julho 15, 2013

César deve morrer, de Paolo e Vittorio Taviani ****


Os irmãos Taviani voltam a revitalizar o neo-realismo italiano em “César dever morrer” (2013), como já tinham feito em obras-primas como “Pai patrão” (1977) e “A noite de São Lourenço” (1982), mas sob uma perspectiva diferente. Nesse mais recente trabalho, partem de uma premissa que até em um primeiro momento poderia parecer simples: a encenação numa prisão por parte de alguns apenados de uma das peças mais célebres de Shakespeare, “Júlio César”. O que ocorre, entretanto, é uma fusão engenhosa entre documentário, ficção e teatro. O foco da trama é a encenação de todo o processo que levou ao resultado da apresentação teatral propriamente dita, em que os presos interpretam a si mesmos, além de interpretar aos seus respectivos papéis no drama shakesperiano. Assim, o filme se desenrola em mais de uma camada, mas que se entrelaçam sutilmente – há a trama básica de “Júlio César” que é encenada com vigor, existe ainda a rotina de ensaios e discussões e também o retrato da vida de alguns dos principais atores. Os limites entre os gêneros vão ficando cada vez mais tênues a um ponto que ultrapassa o perturbador. Em nuances notáveis, vemos não apenas a evolução da peça, mas também a própria transformação humana de seus rústicos artistas. Nesse sentido, a tensão é forte; sabemos desde o início que os componentes do elenco são bandidos condenados casca grossa (alguns, inclusive, cumprem prisão perpétua), o que faz com que a presumível natureza violenta deles nos dê a impressão que algo está sempre a prestes de explodir. A desconcertante conclusão de “César deve morrer” sintetiza esse intricado jogo estético e temático numa sentença simples e brilhante – a do poder transformador da arte.

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