sexta-feira, julho 26, 2013

O reino da sobrevivência, de M.A. Littler ***1/2


Na concepção artística de “O reino da sobrevivência” (2011), não é apenas a sua temática que se refere à política. Na realidade, os próprios atos de filmar e editar acabam ganhando um status de ato político. O diretor alemão M.A. Littler faz do seu documentário um espelho de suas convicções e inquietações pessoais sobre o mundo que o cerca. Usa a limitação de orçamento como uma declaração de intenções, fazendo com que eventuais imperfeições se mostrem como essenciais para revelar a verdadeira natureza da sua obra. O filme não procura respostas fáceis para os questionamentos propostos. A diversidade de depoimentos revela como ponto comum uma insatisfação com os atuais mecanismos sociais, econômicos e políticos do mundo ocidental, mas também evidencia a dificuldade de encontrar denominadores em comum. De certa forma, é como se todas as visões propostas por seus protagonistas pudessem representar algum possível caminho a se seguir, o que só ressalta as várias complexidades que se apresentam na sociedade contemporânea. A estética apresentada por Littler para formatar tais discussões é rústica e contundente, mas também traz um certo grau de inusitado ao se relacionar com o gênero road movie. O narrador percorre os Estados Unidos em busca de seus personagens, o que tem uma carga simbólica muito forte: os EUA representam o berço de algumas das principais manifestações culturais das últimas décadas (rock, cinema, quadrinhos, comportamento, vestuário), mas também trazem no seu bojo alguns dos principais males do capitalismo selvagem. Essa contradição parece ser força determinante também de “O reino da sobrevivência”, no jogo de fascínio e repulsa que Littler estabelece ao expor a gama de experiências e reflexões de seus entrevistados.

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