quarta-feira, julho 17, 2013

Irmãs jamais, de Marco Bellocchio ****


Assim como os Irmãos Taviani em “César deve morrer” (2012), Marco Bellocchio é mais um veterano diretor italiano que vem a beber na fonte do neo-realismo ao realizar “Irmãs jamais” (2010). A forma com que ele desenvolve tal influência, entretanto, é diversa daquela dos Taviani. Ao longo de aproximadamente uma década, ele filmou pequenos trechos dramáticos, usando como atores alguns familiares e amadores, retratando episódios marcantes na trajetória de uma família interiorana de um pequeno vilarejo. Por vezes, tais episódios parecem ter poucas ligações entre eles, em outros momentos apresentam uma ligação íntima. Juntando todos formam um conjunto fascinante e de unidade memorável. O naturalismo da encenação executada por Bellocchio é desconcertante na sua simplicidade e fluência. Para reforçar o tom “doméstico” de sua narrativa, o cineasta utiliza uma fotografia que evoca uma película antiga, de cores fortes – por mais que situe a trama pelos anos de sua realização, tem-se a impressão de uma obra fora do tempo e do espaço, em que a aparente casualidade das situações esconde um dramatismo sutil que por vezes também aflora de forma impactante. O lirismo visual melancólico e simbólico da conclusão de “Irmãs jamais” corrobora essa impressão de uma obra atípica e, por isso mesmo, inesquecível.

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