quarta-feira, setembro 17, 2014

A batalha de Solferino, de Justine Triet ***1/2

A proposta formal e estética de “A batalha de Solferino” (2013) é bastante ousada: a combinação de uma trama ficcional de teor intimista com tomadas reais nas ruas de Paris no dia da eleição presidencial na França em 2012. A intenção dessa conjunção é óbvia – traçar um paralelo entre os violentos conflitos verbais e físicos entre um casal divorciado e a atribulada convivência política entre esquerda socialista e direita neoliberal em um país em plena crise econômica e social. A diretora Justine Triet é bem sucedida ao traçar essa sintonia existencial entre esses dois universos que não estão tão paralelos assim, sendo que a produção em questão acaba se tornando uma contundente obra a retratar o espírito de uma época. Para isso, a cineasta se vale de uma virulenta encenação naturalista na porção ficção do filme, em que uma dramaticidade de crueza desconcertante por vezes se permite a bem vindos toques irônicos. A produção fica ainda mais impressionante quando praticamente todos os personagens principais vão para as ruas, com os atores interagindo em conturbados registros documentais, a um ponto em que ficção e realidade se unem em uma coisa só.

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