É recorrente em críticas e comentários realizados sobre
alguns filmes de Woody Allen a percepção de que o diretor estaria se repetindo
e instalado numa espécie de zona de conforto artística. Essa aparente preguiça
criativa, entretanto, pode ser em ilusória. Allen é um dos poucos cineastas
atividades que traz em cada um dos seus filmes uma particular visão de mundo.
As tramas escritas por ele representam uma espécie de compêndio de suas
neuroses e obsessões temáticas. Assim, nada mais natural que assuntos e situações
volta e meia tornem a aparecer em suas produções. Mesmo o seu habitual padrão formal
representa uma espécie de depuração de um estilo de filmar. Dentro dessa linha
de pensamento, por várias vezes alguns de seus filmes foram criticados na época
de lançamento e com o passar do tempo foram reavaliados de forma positiva tanto
por receberem um olhar mais cuidadoso por parte de crítica e público quanto
pelo fato da maneira como se contextualizaram dentro de sua filmografia. Dito
tudo isso, dá para dizer com tranquilidade que “Magia ao luar” (2014) é um dos piores
trabalhos de Woody Allen. E não pela geralmente alegada sensação de deja vu,
mas simplesmente pelo fato de uma execução por vezes equivocada e insossa. Estão
ausentes do roteiro aqueles típicos tons de sutileza do cineasta – todo o
subtexto da trama é dito expressamente nos diálogos. Por falar neles, as falas
não tem a graça e sagacidade que o espectador tem o costume de ver numa obra de
Allen: a excessiva verborragia é cheia de obviedades e até induz ao sono em
alguns momentos. E isso se agrava pelas interpretações caricatas e superficiais
em demasia de Colin Firth e Emma Stone, a dupla de protagonistas. Esse conjunto
de deslizes resulta numa narrativa cansada e que em determinadas sequências faz
com que o filme pareça uma comédia romântica qualquer e não uma obra de Woody
Allen. O que faz com que “Magia ao luar” não seja um total desperdício artístico
é que em algumas tomadas fica visível uma elegância no filmar, principalmente
nas cenas iniciais que se passam em Berlin, em que belos planos-seqüência e a
estilizada direção de arte oferecem um refinado encanto visual. Mas em se
tratando do diretor em questão, isso acaba sendo muito pouco...
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