terça-feira, janeiro 24, 2012

A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim **1/2



O documentário “A Música Segundo Tom Jobim” (2011) obedece a alguns preceitos formais e temáticos. Formatado sem quaisquer diálogos e composto exclusivamente por números musicais, a produção traça uma espécie de cronologia do cancioneiro jobiniano, pois as canções se sucedem de acordo com a sua antiguidade, não importando, contudo, o ano da gravação mostrado, indo do início em que o compositor se aventurava pelo bolero e samba-canção, passando pela consagração dos clássicos da Bossa Nova e chegando naquela fase em que incorporou elementos regionalistas e de música erudita, com eventuais quedas para um estilo “standard” puxado para o jazz norte-americano. É interessante observar que a edição liga tais números musicais praticamente sem pausas, dando a impressão que entre todas as músicas apresentadas existe uma espécie de célula rítmica/harmônica/melódica em comum que as une, ressaltando assim o forte traço autoral da obra de Jobim. É mérito também do documentário resgatar alguns preciosos e raros registros históricos (para mim, aquele trecho com Silvinha Telles e Rosinha de Oliveira em versão esplendorosa de “Samba de Uma Nota Só” já valeria o filme inteiro). Incomoda em “A Música Segundo Tom Jobim”, entretanto, que a fórmula concebida por Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim vai se tornando um tanto cansativa com o desenrolar da narrativa, além de se apegar a soluções óbvias demais. Para ressaltar o aspecto do reconhecimento internacional para a obra de Tom, recorre-se a várias passagens com artistas estrangeiros cantando e tocando as músicas em questão, tendo algumas passagens até irrelevantes (bastaria ter se limitado aos duetos com Frank Sinatra e a mais dois ou três artistas de peso que tal fator do reconhecimento “de fora” estaria bem evidenciado). Faltou também sair do conceito “música agradável para uma platéia de bom gosto” e tentar investigar a influência de Jobim por outros caminhos mais insólitos da música contemporânea. Do jeito que ficou, parece que o filme ficou destinado a um público pseudo elitizado que gosta de arrotar que odeia funk e Michel Teló.

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