terça-feira, janeiro 03, 2012

A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar ****



Tanto na sua divulgação quanto em certos comentários da crítica têm ocorrido um certo exagero na abordagem de “A Pele Que Habito” (2011), principalmente na afirmação de que seria o primeiro filme de terror dirigido por Pedro Almodóvar. Na verdade, não dá para dizer que a obra esteja plenamente inserida em no gênero em questão, afinal não traz elementos sobrenaturais e nem afunda o pé na jaca em termos de sanguinolência. Almodóvar trafega muito mais na área do suspense, uma praia em que já tinha se inserido com resultados excelentes em produções como “Matador” (1986) e “A Má-Educação” (2004). Em “A Pele Que Habito” (2011), entretanto, o cineasta espanhol mostra influências de uma estética particular do cinema fantástico europeu das décadas de 60 e 70, a começar pela perturbadora relação que se estabelece entre erotismo e morbidez, tão cara à cinematografia de artistas como Jean Rollin, Jesus Franco, Dario Argento e Mario Bava. É claro que tal concepção acaba ganhando uma dinâmica diferente nas mãos de Almodóvar – por vezes, a trama de “A Pele Que Habito” apresenta reviravoltas tão radicais que faz com que a obra adquira uma certa conotação de ironia kitsch (outra característica fundamental de outras produções do diretor). É provável que nas mãos de outros diretores o mesmo roteiro descambaria para o ridículo trash. A visão artística de Almodóvar leva o filme para outros níveis sensoriais. O requinte visual de “A Pele Que Habito” é de encher os olhos, mas sem cair afetações, com o diretor não temendo em combinar de forma extraordinária excelência plástica com detalhes grotescos inusitados. Além disso, Almodóvar estabelece uma sutil narrativa repletas de idas e vindas temporais que se mostram essenciais para evidenciarem as nuances temáticas e formais do filme. No conjunto geral, “A Pele Que Habito” não só reforça ainda mais as obsessões autorais de Almodóvar, como as expande para terrenos inexplorados.

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