segunda-feira, janeiro 23, 2012

O Espião Que Sabia Demais, de Tomas Alfredson ****

A trama de “O Espião Que Sabia Demais” (2011) não foge muito do padrão habitual de John LeCarré, autor da obra literária que deu origem ao filme em questão – uma história de espionagem repleta de sutis e precisas reviravoltas, em que os diversos elementos dramáticos vão sendo jogados aos poucos ao longo da narrativa, o que faz com que cada pequena nuance do roteiro não seja meramente aleatória, configurando uma espécie de antítese da franquia James Bond (o baluarte mais conhecido do gênero espionagem tanto no cinema como na literatura). O grande fator diferencial dessa nova adaptação do universo literário de LeCarré está na abordagem minimalista e distanciada do cineasta sueco Tomas Alfredson, num exercício de estilo que remete diretamente à sua produção anterior, o fascinante “Deixa Ela Entrar” (2007). Sua encenação é feita de toques discretos e expressivos – olhares e gestos de personagens, a progressão harmônica dos temas musicais, a direção de fotografia de movimentos de câmera lentos, planos fixos e tons granulados (em associação a uma estética cinematográfica típica dos anos 70, época em que se desenvolve a trama), a edição que recorre sobriamente a uma alternância de tempos. O estilo econômico de Alfredson não implica, entretanto, num resultado formal pouco ambicioso. Pelo contrário: o impacto audiovisual chega a ser épico e grandioso tamanho o virtuosismo de Alfredson na composição de suas cenas, além da constante atmosfera de tensão que permeia “O Espião Que Sabia Demais”. Para coroar, o elenco se revela em perfeita sintonia artística com a proposta do diretor, em caracterizações dramáticas que mais sugerem do que revelam as intenções dos seus personagens. Nesse sentido, a atuação de Gary Oldman no papel do protagonista George Smiley é emblemática de forma admirável – ele mantém um ar que oscila entre o impassível e o indiferente por quase todo o filme, mas em instantes preciosos deixa transparecer uma emoção reprimida. E talvez essa maneira com que a emoção se insira dentro de uma ambientação algo fria represente uma espécie de síntese artística de “O Espião Que Sabia Demais”.

Um comentário:

Ryanny disse...

fiquei com vontade de ver. já assisti DEIXA ELA ENTRAR. bom filme; espero que esse idem. ^^