segunda-feira, abril 30, 2012

Essential Killing, de Jerzy Skolimowski ****


Um guerrilheiro afegão (Vincent Gallo), surdo devido a um ferimento de guerra, fugindo em uma floresta da Europa Oriental durante um rigoroso inverno – tal premissa já evidencia que o diretor Jerzy Skolimowski não pretende facilitar as coisas em “Essential Killing” (2010). Não há mocinhos ou vilões para torcer. Logo no início o pr ota gonista, em fuga desesperada, explode três soldados norte-americanos com um disparo de bazuca. Durante o período em que fica preso, é barbaramente torturado por militares ocidentais. Fica evidente que no ambiente do filme nada é preto no branco... A luta pela sobrevivência por parte do afegão não fica reduzida ao lugar comum da superação pessoal ou do heroísmo. O que o espectador vê é um homem reduzido a uma condição instintiva de preservação da própria vida, não importando a que custo moral. O registro formal de Skolimoeski revela uma coerência brutal com a trama – há uma ausência quase completa de trilha sonora (evitando, assim, qualquer tentativa de manipulação emocional), a direção de fotografia busca um tom documental na forma seca e objetiva em que filma o calvário do protagonista pelos cenários áridos e desoladores do seu inferno gélido. A própria interpretação de Vincent Gallo busca um naturalismo descarnado, em que as reações de seu personagem quase que emulam uma fera selvagem. O barbarismo a que se reduz o afegão acaba adquirindo uma conotação simbólica – é como se mostrasse as guerras disseminadas pelo Oriente Médio levando as civilizações a um estágio de decadência moral e intelectual. Na lógica niilista de “Essential Killing” não importa se o protagonista sobreviverá ao final ou não: o seu distorcido processo de sobrevivência já representa uma derrota.

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