segunda-feira, abril 16, 2012

John Carter - Entre Dois Mundos, de Andrew Stanton ****



É provável que em meio a tantas produções insossas a utilizarem o recurso de 3D uma obra como “John Carter – Entre Dois Mundos” (2012) possa passar batido (o que talvez também explique o fiasco financeiro que o filme foi ao redor do mundo). Bem, aqueles que deixaram o filme de lado diante dessa lógica correm o risco de perder de assistir a uma das melhores aventuras cinematográficas a aparecem nas telas nos últimos anos. A escalação do renomado Andrew Stanton, o responsável pelas animações “Procurando Nemo” (2003) e “Wall-E” (2008), não foi gratuita – o diretor mostra um preciso domínio na combinação dos efeitos digitais com a encenação “em carne e osso”. A ação em “John Carter” possui uma clareza de movimentos e detalhamento cênico deslumbrantes, traduzindo com sensibilidade a atmosfera pulp e nostálgica da trama. Aliás, esse é outro segredo para o triunfo artístico do filme: um roteiro lapidado com esmero tanto nos diálogos quanto no encadeamento das situações, fazendo com que nenhum detalhe da história pareça desnecessário ou apelativo (não é à toa que o nome do consagrado romancista Michael Chabon esteja nos créditos como um dos responsáveis pelo roteiro). Impressiona ainda a forma harmônica com que o tom de aventura irônica e algo escapista de algumas cenas conviva com um senso dramático arrepiante em outras seqüências – aquele momento em que John Carter (Taylor Kitsch) parte para o conflito solitário contra uma horda de marcianos selvagens, ao mesmo tempo que recorda da morte de sua esposa e filha, é antológica em termos de violência e melancolia. De se destacar ainda o apuro visual na direção de arte – toda a seqüência inicial que se passa no velho oeste durante a Guerra da Secessão traz uma reconstituição de época cuidadosa e nada fake, e que causa um senso de estranhamento quando o filme desemboca para a pura ficção científica no instante em que a trama começa a se desenrolar nos áridos desertos de Marte.

No final das contas, as pretensões comerciais frustradas de “John Carter” farão com que o filme seja lembrado por um bom tempo apenas como um dos maiores fracassos financeiros desta década, mas é possível que uma revisão mais cuidadosa de seus méritos o coloquem como um estimado filme de culto, e não apenas para os apreciadores de ficção científica. O tempo dirá...

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