quarta-feira, agosto 08, 2012

Girimunho, de Helvécio Marins e Clarissa Campolina ***1/2


De concepção formal desconcertante, “Girimunho” (2011) vai muito além do simples experimentalismo estéril. Seu roteiro é de ficção, mas a rudeza de sua ambientação, o naturalismo das interpretações e o registro seco de eventos e atos do cotidiano remetem a um estilo documental. Além disso, mesmo que indícios da trama evidenciem a contemporaneidade da história, a encenação perpetrada pelos realizadores Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina faz com que a obra adquira um caráter fora do tempo e do espaço. O sotaque carregado dos atores amadores torna seu linguajar sertanejo quase um dialeto, fazendo primordial o uso de legendas. Esse acúmulo de “estranhezas” estéticas e temáticas acaba configurando uma narrativa envolvente, que faz o espectador penetrar em um universo à parte, em que pequenos fatos da rotina dos personagens aos poucos adquirem um sentido de transcendência e de revolução intimista. Os diretores também têm a boa sacada de incorporar elementos do folclore do sertão mineiro para fazer a transição sutil da realidade para o fantástico, como se ambos os planos dimensionais convivessem com a maior naturalidade possível.

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