terça-feira, julho 02, 2013

Segredos de Sangue, de Chan-sook Park ****


Na maioria das oportunidades, quando um diretor de fora dos Estados Unidos resolve estrear em algum grande estúdio norte-americano acaba tendo o seu estilo pessoal alterado para se tornar acessível para padrões mais convencionais. No caso do cineasta sul-coreano Chan-wook Park em “Segredos de sangue” (2013), entretanto, o que ocorre é a perversão de elementos tradicionais de acordo com as concepções artísticas do diretor em questão. A trama do filme traz vários preceitos e clichês inerentes ao gênero do suspense: mistérios, reviravoltas, violência. Só que nas mãos de Park tudo isso acaba ganhando uma dimensão bastante particular. A atmosfera da narrativa tem uma conotação um tanto atemporal, fazendo com que se remeta a algumas produções ocidentais típicas dos anos 70 na área do terror e do suspense. Park imprimi um rigor estético de plasticidade admirável – enquadramentos e os tons esmaecidos da iluminação geram um efeito visual de beleza inextricável, em que até o sangue tem uma estranha função pictórica. Por outro lado, o clacissismo da montagem não implica em um academicismo previsível; na verdade, tal edição de poucos e elegantes cortes valoriza as nuances do roteiro, em que as idas e vindas de tempo realçam a complexidade de situações e personagens. E se obras anteriores de Park como “Old Boy” (2003) e “Lady Vingança” (2005) eram marcadas por uma violência extrema, em “Segredos de sangue” ela está presente em níveis mais econômicos e sutis, mas nem por isso menos impactante. De ressaltar ainda o trabalho primoroso na direção do elenco, com destaque para Nicole Kidman e Mia Wasikowska em interpretações bem mais expressivas que os seus habituais. Diante de um resultado final tão extraordinário, “Segredos de sangue” não apenas reafirma o talento de Park como atiça a curiosidade sobre seus futuros trabalhos em solo norte-americano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nicole Kidman + diretor não americano= filme bom :D