quinta-feira, janeiro 16, 2014

Eu respiro, de Emma Davie e Morag McKinnon ***

A temática do documentário “Eu respiro” (2013) pode parecer algo na linha lição de vida, de superação ou coisa que o valha, mas na realidade seu alcance é bem mais amplo. A partir da história de Neil Platt, um dinamarquês de 34 anos que se descobre com uma doença rara que faz com que em questão de meses perca progressivamente os movimentos do corpo até a sua morte, a produção traça uma espécie de diário da degeneração física do protagonista e o seu processo de aceitação do fim inevitável. O recurso narrativo básico utilizado pelos diretores Emma Davie e Morag McKinnon é simples mas altamente eficaz no impacto que causa: enquanto se mostra a difícil rotina diária de Platt e família convivendo com a doença, são contrapostas fotos e vídeos dele antes do surgimento da patologia, o que ressalta bastante o aspecto da fragilidade da vida – o contraste das imagens de um Neil saudável e vigoroso com o seu então cotidiano de privações é brutal e tocante. Com sutileza, na narrativa são inseridos dados biográficos que oferecem uma dimensão simbólica ainda mais dramática para a situação de Platt. Sua doença é hereditária, sendo que o pai dele havia morrido do mesmo mal. Assim, há o questionamento pessoal se havia a possibilidade dele ter tomado alguma providência anterior para evitar o que aconteceu a ele. Por fim, Platt admite que o filme tem o fim de alerta para o seu filho, ainda um bebê de colo, para que tome providências no sentido de que não sofra do mesmo mal. Por mais que tal intenção tenha cunho particular, a forma com que “Eu respiro” expõe o drama de seu protagonista revela uma abordagem universal fascinante.

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