quarta-feira, janeiro 22, 2014

O menino e o mundo, de Alê Abreu **1/2


Uma obra como “O menino e o mundo” (2013) é uma verdadeira “avis rara” para o cinema brasileiro – um longa-metragem de animação bastante distante dos padrões comerciais do gênero, tanto pela sua estética quanto pelo seu conteúdo. O traço proposto nesse filme do diretor Alê Abreu foge da escola digital/realista de Pixar, Disney e afins, investindo num grafismo de forte tom impressionista, simulando uma espécie de rabiscos infantis. Para espectadores não habituados com tal estilo, tal composição visual pode parecer um tanto quanto tosca, mas esse aspecto de mal acabado é intencional, estando em sintonia com o caráter contestatório da temática. Aliado a um trabalho de sonoplastia bastante requintado e original na sua conjunção de ruídos e música, esse formalismo entre o rústico e o lírico por vezes provoca um efeito sensorial hipnótico. Essa particular estilização acaba encontrando ressonância no roteiro da obra, que parece funcionar como uma alegoria crítica da sociedade contemporânea, repleta de simbolismos que aludem ao massacre cultural que a economia capitalista impõe aos indivíduos. E é aí que “O menino e o mundo” chega numa encruzilhada existencial – se em algumas oportunidades a sua estética “suja” e o seu discurso político, filosófico e social podem parecer sombrio e até mesmo complexo para a platéia infanto-juvenil, por outro lado sua estética crua soa árida e cansativa, além da temática didática em termos sociológicos, pode fazer a animação parecer um tanto ingênua para o público adulto. Mesmo dentro dessa indefinição de seu direcionamento, “O menino e o mundo” não deixa de ser uma contundente curiosidade dentro do panorama do cinema nacional contemporâneo.

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