terça-feira, julho 01, 2014

Getúlio, de João Jardim **


Em 1993, a TV Globo lançou uma das melhores produções que apareceram em sua programação, a minissérie “Agosto”, baseada em um extraordinário romance de Rubem Fonseca. A trama trazia uma história policial ficcional que se enleava de forma notável com fatos históricos relacionados ao tenebroso mês de agosto de 1954, indo do atentado a Carlos Lacerda e chegando no suicídio de Getúlio Vargas. O programa televisivo em questão não economizava na tensão e na violência, além de apresentar um trabalho de caracterização dramática de personagens e direção de arte antológicos, que pareciam realmente resgatar o espírito de uma época. Dessa forma, chega a ser engraçado que tenha sido a Globo Filmes que tenha produzido “Getúlio” (2013), filme que faz a recriação dramática dos marcantes fatos daquele agosto de 1954. Isso porque essa versão cinematográfica tem um forte caráter asséptico no seu formalismo, naquela linha de produção que se pretende “séria” e não quer chocar as plateias. Walter Carvalho é o melhor diretor de fotografia brasileiro em atividade, mas a visual que concebeu no filme é clean em excesso e anódino, o que aliado às interpretações burocráticas do elenco dá a constante impressão de uma produção despersonalizada e que já nasceu datada. Além disso, a parte temática peca por uma visão simplória e maniqueísta das situações apresentadas – na ótica do filme, é como se Getúlio tivesse se suicidado por um suposto medo de ser preso. Assim, uma produção que era para ser mais ousada acaba sendo muito mais conformista que uma minissérie televisiva de vinte anos atrás.

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