terça-feira, julho 08, 2014

Olho nu, de Joel Pizzini ***


No meio de tantos documentários tendo a música como temática no panorama cinematográfico nacional contemporâneo, “Olho nu” (2012), obra que foca a carreira e o pensamento do cantor Ney Matogrosso, destaca-se pela narrativa insólita concebida pelo diretor Joel Pizzini. Ao invés de se concentrar numa estrutura linear e convencional, o diretor optou por uma estética que emula uma espécie de sensorialismo, como se os fatos e números musicais viessem num fluxo de lembranças e ideias. Há até uma ordem cronológica na exposição de fatos e canções, com Pizzini utilizando diversos trechos de entrevistas e shows com o seu protagonista, mas talvez a preocupação maior é como esses audiovisuais se relacionam com o imaginário do espectador e do próprio Brasil. Matogrosso sempre navegou por uma fronteira muito tênue entre o sofisticado e o exagero kitsch, num dilema que revela muito da própria essência da cultura brasileira. Assim, tanto a sua plateia podia delirar com ele interagindo com as dançarinas do Chacrinha quanto se comover com a sutileza de suas interpretações de clássicos do nosso cancioneiro tendo o acompanhamento de músicos como Arthur Moreira Lima, Raphael Rabello e Paulo Moura. Pizzini tem o indiscutível mérito de saber sintetizar em “Olho nu” essa essência controversa da arte de Matogrosso, resultando em uma obra que tanto pode fascinar antigos admiradores do cantor quanto estimular uma revisão de sua música por neófitos (aliás, logo após assistir ao filme, vi gente falando em ir atrás de discos de Matogrosso).

Nenhum comentário: