terça-feira, abril 28, 2015

Noites brancas no píer, de Paul Vecchiali ***1/2


O diretor Paul Vecchiali leva as possibilidades criativas da narrativa audiovisual ao limite em “Noites brancas no píer” (2014). Na sua concepção artística, a narrativa naturalista seria insuficiente para abarcar as suas intenções estéticas. Dessa forma, sua obra é uma exuberante síntese de elementos de literatura, teatro, dança e música, dando origem a um inquietante híbrido cinematográfico. Essa abordagem formal da produção valoriza imensamente a beleza do texto original literário de Dostoievski, mas a sua fidelidade à obra que a inspirou não implica em simples literatura filmada. Pelo contrário – a dinâmica narrativa se vale muito da direção de fotografia de enquadramentos e iluminação expressivos e da montagem de ritmo sóbrio. O tom de distanciamento emocional e a atmosfera de forte tensão dramática soam contrastantes, mas tal conjunção também tem um efeito sensorial desconcertante. Vecchiali oferece uma encenação vigorosa na sua combinação de composição cênica espartana e valorização da expressividade das atuações da sua dupla de protagonista, fazendo com que embates verbais intensos e balés alucinados joguem o filme para uma estranha e fascinante dimensão.

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