segunda-feira, agosto 05, 2019

Deodato Holocaust, de Felipe Guerra ***


Quem acompanha o trabalho de Felipe Guerra sabe que ele, além de cineasta, é um misto de admirador, incentivador e estudioso do gênero fantástico no cinema, indo de clássicos do estilo até as mais excêntricas obscuridades e tranqueiras do gênero. Assim, um filme como o documentário “Deodato Holocaust” (2019) serve não apenas como uma interessante amostragem da carreira artística do cineasta italiano Ruggero Deodato como também evidencia essas diferentes facetas do próprio Guerra. A escolha narrativa de priorizar como fio condutor um longo depoimento de seu protagonista é arriscada, pois poderia fazer com que o longa tivesse um caráter estritamente histórico e jornalístico. Guerra evita que seu filme caia nessa armadilha ao usar uma edição que sabe conciliar com uma dinâmica inteligente trechos com declarações contundentes de Deodato e expressivas imagens de arquivos e dos filmes mencionados pelo diretor. Além disso, a entrevista ainda consegue evitar a simples enumeração de fatos e datas, fazendo com que seu protagonista profira declarações que variam entre confissões existenciais e artísticas e um misto de ironia e desafio na forma com que Deodato enfrenta os pontos mais polêmicos levantados nas perguntas feitas por Guerra e equipe (principalmente no que diz respeito à toda controvérsia que envolveu a realização e lançamento de “Canibal holocausto”). E no que era para ser um simples documentário biográfico de um diretor, a obra destaca de maneira sutil um subtexto que faz o retrato de uma geração de artistas que desenvolveram seus trabalhos dentro dos ditames comerciais e estéticos da época (anos 60 e 70 e primeira metade dos 80), mas que preservaram um senso artístico particular, herdeiro da influência de alguns mestres que os antecederam e com quem até mesmo trabalharam (Dario Argento, Mario Bava e Deodato foram colaboradores, respectivamente, de Sergio Leone, Federico Fellini e Roberto Rossellini).

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