terça-feira, fevereiro 19, 2013

A luz do Tom, de Nelson Pereira dos Santos **




O principal ponto que joga contra “A luz do Tom” (2013) é que se trata na verdade de um filme institucional (o que os créditos iniciais revelam logo de cara). Assim, trata-se de uma grande loa à figura de Tom Jobim, não havendo espaço para contradições e nem para um maior aprofundamento dramático. Sua formatação asséptica também atrapalha, com uma direção de fotografia estilo cartão postal emoldurando a narrativa. Dentro dessa concepção utra comportada, talvez o momento mais constrangedor seja aquele em que Helena Jobim fica respondendo perguntas óbvias (“Tom era muito namorador?” e daí para baixo) de um grupo de jovens em estado catatônico. Por outro lado, dá até para estranhar um documentário sobre música brasileira em que não estejam presentes os onipresentes Tarik de Souza, Ricardo Cravo Albim e Nelson Motta. Mas esse dado insólito acaba se perdendo no fato de que o filme se concentra exclusivamente nas entrevistas com a irmã Helena, a ex-mulher Thereza e a viúva Ana Lontra, cujos principais focos são algumas informações biográficas protocolares, além de historinhas prosaicas. Podem servir como curiosidade, mas não dão a dimensão real da grandeza do artista. Apesar dessas previsibilidades, não há como não se perguntar por que o diretor Nelson Pereira dos Santos travestiu Helena como uma espécie de sósia de Tom, o que aliado a sua forma de falar literária, como se tivesse decorado os trechos da biografia de Tom escrito por ela, traz um estranho efeito estético.

Apesar dos equívocos aqui apontados, confesso que não consigo dizer que “A luz do Tom” é uma obra dispensável. Isso porque a produção traz a grande vantagem de vir embalada com algumas das mais belas pérolas do cancioneiro jobiniano. Tanto que logo que terminou o filme, me de uma vontade danada de chegar em casa para ouvir os discos do cara. E talvez não fosse essa a grande intenção do filme?

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