quinta-feira, outubro 31, 2013

Família do bagulho, de Rawson Marshall Thurber ***

Em algumas oportunidades, filmes comerciais e escapistas conseguem trazer em sua essência uma visão muito mais contestadora e irônica em relação aos costumes da sociedade moderna do que muitas produções pretensamente sérias e artísticas. “Família do bagulho” (2013) é exemplo claro de tal situação. Formatada como uma comédia romântica, com eventuais toques escatológicos e de humor físico grosseiro, tendo direito inclusive a um certo tom de fábula moral, a obra dirigida por Rawson Marshall Thurber traz com sutileza uma abordagem crítica e ácida do moralismo tipicamente norte-americano. A falsa família composta por desajustados (traficante, stripper, delinquente juvenil e virgem bobalhão) até tem direito a uma redenção na conclusão do filme, mas traz também dentro de si um certo tom de desafio aos padrões de normalidade. A sequência, por exemplo, em que o garoto virginal é treinado pela “irmã” e pela “mãe” para saber beijar traz uma dose inusitada de ironia perversa para esse tipo de produção. Assim, mesmo estando longe da fúria cômica icoloclasta de um Monty Python, “Família do bagulho” não deixa de representar um salutar desafio ao carolismo dos blockbusters contemporâneos.

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