quinta-feira, outubro 03, 2013

Jobs, de Joshua Michael Stern *


Sem querer forçar a barra, mas dá para dizer que os nerds mais sem critérios têm mais uma trilogia a acrescentar entre os seus objetos de culto: a de filmes inspirados em grandes marcas da Internet. “A rede social” (2010) mostrou os bastidores das origens e ascensão do Facebook, enquanto “Os estagiários” (2013) tem uma trama fictícia cujo pano de fundo é uma espécie de propaganda dos ideais do Google. Já esse “Jobs” (2013) pelo título já é auto-explicativo: trata-se de uma cinebiografia do criador da Apple, Steve Jobs. É interessante observar que cada uma de tais produções possui uma abordagem diferente. “A rede social” se formata como uma ácida e brilhante crônica de costumes da sociedade ocidental desse século. Já “Os estagiários”, apesar do seu caráter marqueteiro, é uma competente e previsível “comédia universitária”. “Jobs” envereda no gênero da cinebiografia clássica. Seus equívocos, entretanto, não têm necessariamente relação com o seu convencionalismo. O que irrita no filme é um tenebroso descompasso entre o que o roteiro se propõe (uma análise crítica sobre a trajetória profissional de seu protagonista) e a estrutura narrativa proposta pelo diretor Joshua Michael Stern, que parece escolher um tom entre o laudatório e o edificante. Assim, prevalece uma inconveniente e constante trilha sonora melosa (temos a permanente sensação de se estar assistindo a uma grandiosa obra de caráter cívico), roteiro esquemático e previsível, fotografia e edição sem a mínima criatividade, interpretações que oscilam entre o medíocre e o constrangedor (francamente, semelhança física com pessoais reais não deveria ser a condição principal na escolha do elenco). Todos essas questionáveis escolhas artísticas levam a uma obra de sentido mais que confuso – seria algo como “olha, o Jobs era um sociopata, mas no fundo era um cara legal, afinal ganhou tanta grana....”.

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