sexta-feira, outubro 11, 2013

O nascimento do amor, de Philippe Garrel ***1/2


As coisas no cinema de Philippe Garrel parecem seguir um ritmo próprio, como se fizessem parte de um universo particular do cineasta. “O nascimento do amor” (1993) é obra sintomática desse direcionamento artístico. A trama se desenvolve num tempo indefinido, sendo que a estética concebida por Garrel acentua ainda mais essa ideia de atemporalidade. Num primeiro momento, o formalismo da produção alude aos anos áureos da Nouvelle Vague – fotografia em preto e branco, além da edição e narrativa repletas de elipses. Na realidade, Garrel é contemporâneo de Godard e Truffaut, sendo que começou a dar seus primeiros passos no cinema justamente durante o célebre movimento cinematográfico francês. Até mesmo o roteiro traz em si a noção “fora do tempo e do espaço”; os protagonistas Paul (Lou Castel) e Marcus (Jean-Pierre Leaud, em personagem que se mostra em sintonia com o antológico Antoine Doinel) são homens maduros, mas apresentam comportamentos oscilantes e inconseqüentes. Garrel faz a crônica de uma eterna juventude, da imaturidade inconstante. Suas criaturas vagam pela vida num cruzamento entre o hedonismo e a melancolia. E no meio dessa abordagem nostálgica e amarga e das referências mencionadas, fica uma obra de encanto hipnótico e envolvente.

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