terça-feira, março 11, 2014

Bophana: Uma tragédia cambojana, de Rithy Panh ***1/2


A estrutura narrativa proposta pelo diretor Rithy Panh para o documentário “Bophana: Uma tragédia cambojana” (1996) é simples, mas altamente eficaz e expressiva. Para mostrar a história de um casal de intelectuais resistentes que foram perseguidos, torturados e mortos pela ditadura de Pol Pot no Camboja dos anos 70, o cineasta recorre à leitura das cartas trocadas entre os amantes nos períodos em que ficavam separados devido ao conflito, a algumas entrevistas com pessoas que participaram daqueles eventos e a filmagens em locais onde boa parte dos fatos se desenvolveu. Talvez a influência mais evidente seja a do extraordinário “Noite e neblina” (1955) de Alain Resnais, em que a história de um campo de concentração nazista é contada sem se recorrer a nenhuma imagem de arquivo. No filme de Panh, temos até alguns breves trechos de registros da época, mas o foco principal mesmo é nas longas e emocionais missivas dos amantes no contraste com os cenários desoladores onde suas tragédias pessoais ocorreram, obtendo um efeito dramático de forte impacto sensorial. No mais, há ainda as cenas impressionantes de um ex-soldado do governo ditatorial detalhando como eram as execuções em massa de dissidentes e guerrilheiros – o tom natural e por vezes até permeado com sorrisos nos faz lembrar da tão aludida banalidade do mal.

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