quinta-feira, maio 08, 2014

A festa e os convidados, de Jan Nemec ****

A situação social e política do Tchecoslováquia da segunda metade dos anos 1960 é fator determinante para se entender as metáforas e simbologias que grassam à vontade na narrativa de “A festa e os convidados” (1966). Mas o alcance temático e sensorial desse estranho filme não é delimitado a um único aspecto regional e temporal. O diretor Jan Nemec consegue estabelecer um espectro universal para a sua obra. Para isso, serve-se de uma encenação bastante livre e anti-naturalista, em que os fatos se sucedem dentro de uma lógica muito particular, namorando fortemente o surrealismo. Aliás, a festa em que convidados são tratados como prisioneiros nos faz lembrar tanto episódios delirantes semelhantes em “O anjo exterminador” (1966) e “O discreto charme da burguesia” (1972), ambos da lavra de Luis Buñuel, mestre do onirismo cinematográfico, como os escritos de Kafka sobre os absurdos de uma sociedade sob jugo de incompreensíveis desmandos estatais. A atmosfera opressiva e obscura constante de “A festa e os convidados” reforça o clima de pesadelo a se associar com os ventos autoritários que sopravam no seu país de origem, mas também servem como ilustração para a presença de um Estado tirânico que pode se manifestar em qualquer lugar do planeta.

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