terça-feira, maio 13, 2014

Pedro, o negro, de Milos Forman ***1/2

Aqueles que conhecem e admiram o cineasta tcheco Milos Forman por suas produções norte-americanas como “Um estranho no ninho” (1975) e “O povo contra Larry Flint” (1996) poderão ter uma considerável surpresa ao assistirem aos longas que ele dirigiu no seu país de origem na década de 1960. Ao invés daqueles dramas pesados e contundentes, há crônicas irônicas sobre o cotidiano, de viés agridoce. “Pedro, o negro” (1963) é bastante emblemático de tal tendência nessa fase da carreira de Forman. Ao narrar pequenos fatos rotineiros da vida do protagonista adolescente Pedro (Ladislav Jakim), o filme nos faz lembrar a saga juvenil dos primeiros capítulos da trajetória do alter ego de François Truffaut, Antoine Doinel, tanto pela leveza e fluidez da encenação concebida por Forman quanto pela natural alternância de atmosferas dramáticas entre a melancolia e a comicidade. A combinação de filmagem e edição da produção aparenta um caráter de casualidade, como se Forman buscasse um registro que evocasse o documental, e que acaba ganhando um efeito encantador pela empatia que causa. Essa sugestão de aleatoriedade na verdade revela o notável senso de rigor estético que num primeiro momento pode parecer imperceptível, mas que se revela como marca indelével de um diretor que domina com sabedoria a narrativa cinematográfica.

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