segunda-feira, maio 12, 2014

O cremador, de Juraj Herz ****

A participação da Tchecoslováquia na 2ª Guerra Mundial foi bastante traumática para o país, envolvendo uma invasão implacável dos alemães e episódios obscuros de colaboracionismo. “O cremador” (1968) é uma obra que faz uma síntese perturbadora desse episódio histórico através de uma narrativa repleta de simbologias mórbidas e por vezes até irônicas, demonstrando uma sutileza notável na caracterização de uma sensação permanente de incômodo. O diretor Juraj Herz constrói a sua obra como se fosse um conto gótico de horror. A trama se desenvolve de forma linear, mas a atmosfera é de algo difuso, com enquadramentos e edição sugerindo um clima de pesadelo. O modus operandi do protagonista Kopfrkingl (Rudolf Hrušínský), responsável em uma funerária pelas cremações, parece ser uma metáfora para o próprio tratamento formal proposto por Herz – as ações do personagem são carregadas pelo gosto por uma assepsia doentia, em que o apreço pela ordem e pela pureza encontra no ideário nazista a casa perfeita para aflorar, enquanto a estética de Herz constrói uma ambientação clean e despersonalizada, mas que em momentos cruciais se converte em cenários carregados de sangue e sujeira. Poucas vezes os pecados de guerra foram expostos no cinema de forma tão ácida e contundente.

Nenhum comentário: