quinta-feira, maio 22, 2014

Hotel Mekong, de Apichatpong Weerasethakul ***1/2

Nas tomadas iniciais de “Hotel Mekong”, há um músico dedilhando um violão e que ocasionalmente faz alguns comentários com um conhecido que também aparece na cena. Os temas que ele toca são melodicamente belos, mas sua execução é um tanto hesitante, procurando os acordes certos. Essas canções em construção serão a trilha sonora da produção tailandesa em questão e parecem refletir a própria essência artística da obra. Esse estranho trabalho do diretor Apichatpong Weerasethakul tem uma estrutura formal de concepção complexa, mas sua encenação é tão natural que faz tudo até parecer simples. Num primeiro momento, pode parecer o documentário dos ensaios para um filme. Só que o cineasta não se contenta com um mero registro objetivo – por vezes, a natureza fantástica da temática da obra ensaiada invade a realidade, criando a impressão de dois planos de realidade que se confundem, sem que seja necessário que se recorra a maiores trucagens. O grande “truque” de Weerasethakul está na criação de uma atmosfera rarefeita, com as interpretações dos atores variando da dramaticidade cortante para um sereno distanciamento emocional. Não há no filme uma preocupação em racionalizar a trama e nem mesmo a sua estética, cabendo ao espectador embarcar nessa viagem sensorial insólita e encantadora.

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