Nas tomadas iniciais de “Hotel Mekong”, há um músico
dedilhando um violão e que ocasionalmente faz alguns comentários com um
conhecido que também aparece na cena. Os temas que ele toca são melodicamente
belos, mas sua execução é um tanto hesitante, procurando os acordes certos. Essas
canções em construção serão a trilha sonora da produção tailandesa em questão e
parecem refletir a própria essência artística da obra. Esse estranho trabalho
do diretor Apichatpong Weerasethakul tem uma estrutura formal de concepção
complexa, mas sua encenação é tão natural que faz tudo até parecer simples. Num
primeiro momento, pode parecer o documentário dos ensaios para um filme. Só que
o cineasta não se contenta com um mero registro objetivo – por vezes, a
natureza fantástica da temática da obra ensaiada invade a realidade, criando a
impressão de dois planos de realidade que se confundem, sem que seja necessário
que se recorra a maiores trucagens. O grande “truque” de Weerasethakul está na
criação de uma atmosfera rarefeita, com as interpretações dos atores variando
da dramaticidade cortante para um sereno distanciamento emocional. Não há no
filme uma preocupação em racionalizar a trama e nem mesmo a sua estética, cabendo
ao espectador embarcar nessa viagem sensorial insólita e encantadora.
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