sexta-feira, maio 16, 2014

Valerie e sua semana de deslumbramento, de Jaromil Jires ***1/2

Como já foi comentado em textos anteriores deste blog, o cinema tcheco dos anos 1960 apresentava em algumas de suas principais obras um caráter bastante metafórico, em que o formalismo e o conteúdo de seus roteiros carregavam forte conotação simbolista para retratar as contradições e dilemas sócio-políticos que marcavam o país na época. “Valerie e sua semana de deslumbramento” (1970) também apresenta tal conotação – sua trama fabular traz referências que remetem a “Alice nos país das maravilhas” e lendas afins, histórias essas que sempre evocam questões sobre sexualidade reprimida ou prestes a florescer, relacionando ainda ao tema da perda da inocência. A ligação com o momento histórico de uma nação que se encontra envolta pela bruma opressiva de um autoritarismo castrador é evidente, mas tal relação é apresentada de forma sutil e delicada. A estética concebida pelo diretor Jaromil Jires é encantadora, com fotografia, direção de arte e edição construindo uma atmosfera onírica e libertária, conectando também o filme com uma tendência que era forte no cinema europeu daquela época, em que o fantástico e o erótico apresentavam uma intrínseca ligação (vide a obra de outros cineastas bastante ativos no período como Jean Rollin e Mario Bava).

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