segunda-feira, janeiro 26, 2015

As aventuras do avião vermelho, de Frederico Pinto e José Maia **1/2


Entender o atual contexto em que “As aventuras do avião vermelho” (2012) está sendo lançado é importante não só para o analisar, mas também para poder embarcar na viagem estética dos diretores Frederico Pinto e José Maia. Em um momento em que a grande maioria das produções de animação envereda para o digital e o 3D, o filme em questão parece se aninhar com convicção num obscuro recôndito anacrônico. E faz isso não por preguiça criativa – os realizadores expressam em suas escolhas formais e temáticas um carinho especial por certos quesitos artísticos fora de moda. Essa aproximação com concepções “fora do tempo e do espaço” aflora um certo caráter contestatório por parte dos diretores. E esse caminho não se dá sem percalços. A base do roteiro é um livro infantil de Érico Veríssimo, mas a adaptação não se preocupa em ser totalmente fiel ao original. O roteiro se permite algumas atualizações e liberdades, com direito a observações críticas sobre aspectos atuais da educação infantil, sem que com isso deixar de preservar a essência da obra literária. Nesse viés, o traço simples e expressivo que marca a concepção estética do filme, distante do realismo típico do 3D, bem como o leve tom ingênuo da trama revelam sintonia com o livro de Veríssimo. Os cineastas ainda se permitem algumas ousadias ao dar uma ambiência delirante para algumas passagens. O que faz com que “As aventuras do avião” não pegue na veia com seu resultado final é a dificuldade de estabelecer uma narrativa fluida, natural – o ritmo por vezes é trôpego, em outros momentos um tanto apressado, fazendo com que as coisas caiam no enfadonho em determinados momentos. Ou seja, há várias boas ideias e sacadas visuais que se revelam instigantes isoladas, mas que não resultam num todo satisfatório. Ainda sim, as inquietações artísticas dessa animação a tornam um trabalho que merece atenção.

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