Entender o atual contexto em que “As aventuras do avião
vermelho” (2012) está sendo lançado é importante não só para o analisar, mas
também para poder embarcar na viagem estética dos diretores Frederico Pinto e
José Maia. Em um momento em que a grande maioria das produções de animação
envereda para o digital e o 3D, o filme em questão parece se aninhar com
convicção num obscuro recôndito anacrônico. E faz isso não por preguiça
criativa – os realizadores expressam em suas escolhas formais e temáticas um
carinho especial por certos quesitos artísticos fora de moda. Essa aproximação
com concepções “fora do tempo e do espaço” aflora um certo caráter contestatório
por parte dos diretores. E esse caminho não se dá sem percalços. A base do
roteiro é um livro infantil de Érico Veríssimo, mas a adaptação não se preocupa
em ser totalmente fiel ao original. O roteiro se permite algumas atualizações e
liberdades, com direito a observações críticas sobre aspectos atuais da educação
infantil, sem que com isso deixar de preservar a essência da obra literária.
Nesse viés, o traço simples e expressivo que marca a concepção estética do
filme, distante do realismo típico do 3D, bem como o leve tom ingênuo da trama
revelam sintonia com o livro de Veríssimo. Os cineastas ainda se permitem
algumas ousadias ao dar uma ambiência delirante para algumas passagens. O que
faz com que “As aventuras do avião” não pegue na veia com seu resultado final é
a dificuldade de estabelecer uma narrativa fluida, natural – o ritmo por vezes é
trôpego, em outros momentos um tanto apressado, fazendo com que as coisas caiam
no enfadonho em determinados momentos. Ou seja, há várias boas ideias e sacadas
visuais que se revelam instigantes isoladas, mas que não resultam num todo
satisfatório. Ainda sim, as inquietações artísticas dessa animação a tornam um
trabalho que merece atenção.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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