quarta-feira, janeiro 14, 2015

Para sempre teu Caio F., de Candé Salles *


O diretor Candé Salles tinha tudo para fazer de “Para sempre teu Caio F.” (2014) uma cinebiografia relevante: uma temática interessante, farto material de arquivo (tanto em fotografias quanto em audiovisuais), uma gama considerável de artistas e personalidades interessantes para falar sobre o biografado, recursos consideráveis de produção oriundos do Canal Brasil. Sua mão pesada na direção e escolhas equivocadas em termos narrativos, entretanto, fazem de seu documentário um dos piores filmes a aparecerem nos últimos anos em nossas telas. Para começar, Salles parece sempre fazer questão de deixar claro que é um grande admirador da obra de Caio Fernando Abreu. Tal apreço faz com que ele cometa um equívoco gigantesco ao transformar o documentário numa insossa hagiografia, em que inúmeros trechos de entrevistas se limitam a exaltar a genialidade de Caio como escritor e sua gentileza como ser humano. Não há tensão ou profundidade em tal abordagem. Para piorar, a estrutura narrativa da produção é sem imaginação, pouco ousada mesmo, limitando-se a um tom que oscila entre o didatismo burocrático e o sentimentalismo rasteiro, dando a tudo uma cara de um grande vídeo institucional. Além disso, Salles recorre a alguns truques que raramente resultam em algo memorável, desde fotogênicos e deslocados atores e atrizes globais a proferirem de forma afetada trechos de obras de Caio até recriações dramáticas patéticas de momentos importantes na vida do escritor. Por que não pegar artistas viscerais como Grace Gianoukas, efetivamente mais identificada com a obra e vida do escritor, para fazer as referidas leituras? E por que perder tempo com recriações dramáticas pueris quando se tem em mãos um material audiovisual tão rico com o próprio biografado em ação? Talvez as respostas para tais indagações estejam no desejo de Salles de ter realizado um filme para já convertidos não tão exigentes ao universo de Caio Fernando Abreu. Afinal, do jeito que ficou “Para sempre teu Caio F.”, dificilmente não iniciados se sentirão atraídos em procurar algum livro do biografado em questão.

Nenhum comentário: