Se “As cidades dos piratas” (2018) marca um efetivo
amadurecimento de Otto Guerra como diretor de animações, tanto em termos de
rigor narrativo e estético quanto na depuração criativa de roteiro, “Wood &
Stock – Sexo, orégano e rock’n’roll” (2006) peca exatamente pela
autoindulgência com que trata a sua síntese de formalismo e temática. Tudo no
filme soa preguiçoso e despersonalizado, como se o diretor estivesse no
automático e preenchesse as lacunas da obra com as soluções mais óbvias e sem
graça. Parece que Guerra leu apressadamente alguns números da antológica
revista Chiclete com Banana e não entendeu a essência dos personagens e do
próprio criador Angeli. Só isso explica a impressão constante de que se está
assistindo a uma versão asséptica e fofinha de criaturas que no original dos
quadrinhos eram marcadas pela sordidez e mesmo um niilismo perturbador. O
resultado final desse direcionamento do cineasta é uma obra em que narrativa e
personagens carecem de carisma e tensão, fazendo com que o espectador pouco se
importe com o que está acontecendo na tela. Assim, são desperdiçadas as
interessantes possibilidades criativas que o universo de Angeli oferecia e
outros recursos de peso que Guerra tinha em mãos (principalmente a ótima trilha
sonora). Pode servir de consolo que esse fracasso artístico do cineasta talvez
seja encarado como uma espécie de laboratório de aprendizado que serviu como
lição do que não fazer quando o cineasta enveredou para o mundo gráfico de
Laerte no já mencionado “A cidade dos piratas”.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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