terça-feira, janeiro 08, 2019

Wood & Stock - Sexo, orégano e rock'n'roll, de Otto Guerra *

Se “As cidades dos piratas” (2018) marca um efetivo amadurecimento de Otto Guerra como diretor de animações, tanto em termos de rigor narrativo e estético quanto na depuração criativa de roteiro, “Wood & Stock – Sexo, orégano e rock’n’roll” (2006) peca exatamente pela autoindulgência com que trata a sua síntese de formalismo e temática. Tudo no filme soa preguiçoso e despersonalizado, como se o diretor estivesse no automático e preenchesse as lacunas da obra com as soluções mais óbvias e sem graça. Parece que Guerra leu apressadamente alguns números da antológica revista Chiclete com Banana e não entendeu a essência dos personagens e do próprio criador Angeli. Só isso explica a impressão constante de que se está assistindo a uma versão asséptica e fofinha de criaturas que no original dos quadrinhos eram marcadas pela sordidez e mesmo um niilismo perturbador. O resultado final desse direcionamento do cineasta é uma obra em que narrativa e personagens carecem de carisma e tensão, fazendo com que o espectador pouco se importe com o que está acontecendo na tela. Assim, são desperdiçadas as interessantes possibilidades criativas que o universo de Angeli oferecia e outros recursos de peso que Guerra tinha em mãos (principalmente a ótima trilha sonora). Pode servir de consolo que esse fracasso artístico do cineasta talvez seja encarado como uma espécie de laboratório de aprendizado que serviu como lição do que não fazer quando o cineasta enveredou para o mundo gráfico de Laerte no já mencionado “A cidade dos piratas”.

Nenhum comentário: