O fluxo criativo do articulista deste blog obedece a um
direcionamento simples. À medida que vou vendo filmes no cinema, DVD e afins,
escrevo sobre eles na ordem em que os assisti. Dessa forma, acaba me parecendo
uma certa ironia do destino que esteja escrevendo sobre “Lost Zweig” (2003)
justamente nesse três de janeiro de 2019. A produção dirigida por Sylvio Back
trata da última semana da vida do escritor austríaco Stefan Zweig, que cometeu
suicídio junto à esposa no Brasil em 1942. A morte do artista sempre carregou
uma aura de mistério, inerente a essa tipo de evento, ainda que ele tenha
deixado um bilhete de despedida bem esclarecedor em relação aos seus motivos. O
que se pode apreender como efetiva causa de sua decisão estava em um mal-estar
existencial diante de um mundo que se encaminhava naquele momento com muita
naturalidade para o nazi-fascismo. E como um brasileiro com um mínimo de sensibilidade
e racionalidade pode se sentir na atualidade diante de um ordenamento
sócio-político baseado em uma conjunção nefasta de patriarcalismo, racismo,
misoginia, homofobia, xenofobia e exclusão social que foi escolhido pela
própria população? Quantos Zweigs devemos ter por aí?
A versão cinematográfica concebida por Back para a tragédia
de seu protagonista é marcada por uma fascinante ambiguidade estética e
emocional, o que por vezes torna a narrativa um tanto fria e irregular. A
impressão inicial é de uma abordagem de teor realista/naturalista, tanto na
caracterização de personagens e situações como na atmosfera do filme. Aos
poucos, entretanto, a obra vai ganhando uma conotação mais complexa e difusa,
em que elementos que beiram o delirante realçam a narrativa. Diante dos posicionamentos
escorregadios do governo Vargas diante à Alemanha nazista e da situação
desesperadora de seus conterrâneos judeus na Europa, Zweig (Rüdige Vogler) vai
se deixando inebriar pela sensualidade latente explosiva e pelo comportamento
humano contraditório típicos do ambiente exótico que o cerca. Nesse perturbador
contexto histórico em que ele está inserido, sua decisão final pode parecer
brusca e radical, mas também ganha uma conotação existencial de dolorosa
coerência.
Um comentário:
Não sabia desse filme. Me bateu a curiosidade
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