Ainda que seja um diretor bastante cultuado, Roger Corman
foi antes de mais nada um grande homem de negócio dentro do cinema. Mesmo os
antológicos filmes que realizou adaptando a obra literária de Edgar Allan Poe
são frutos principalmente de um afiado senso de oportunidade mercadológica e de
utilização de recursos de produção. Essa mesma lógica artística-comercial o
levou a realizar alguns longas dentro da temática sexo-drogas-rock and roll quando
essa tríade estava no auge em meados dos anos 1960. “Viagem ao mundo da
alucinação” (1967) talvez seja o exemplar mais emblemático de tal tendência,
tendo também relevante conotação histórica por trazer em seu elenco e equipe
criativa os nomes de profissionais que poucos anos mais tarde estouraram em
Hollywood como Jack Nicholson, Denis Hooper, Peter Fonda e Bruce Dern. Por
outro lado, o filme de Corman transcende a mera curiosidade histórica ou comercial,
tendo um peso artístico considerável. Em meio a maneirismos típicos de um
caráter exploitation há momentos efetivamente antológicos, em que as angústias
e inquietações existenciais do roteiro encontram uma moldura estética-narrativa
mais que adequada. Truques imagéticos baratos, encenação vigorosa e uma trilha
sonora que sintetiza rock psicodélico e easy listening de maneira notável
formam um todo sensorial entre o atordoante e o encantador. Nessa levada, Corman
articula com sensibilidade e ironia a sua particular visão sobre o universo
lisérgico sessentista.
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